STF prende presidente da Alerj por avisar facção criminosa sobre operação policial

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8 dez
STF prende presidente da Alerj por avisar facção criminosa sobre operação policial

O ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) decretou na quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, a prisão preventiva do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Rodrigo da Silva Bacellar, do União Brasil. A decisão veio após fortes indícios de que ele havia vazado informações sigilosas sobre a Operação Zargun, permitindo que o deputado Tiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, fugisse da prisão — e só foi capturado horas depois, já em estado de alerta. O caso expôs uma rede de corrupção que conecta políticos fluminenses a facções criminosas, num cenário que Moraes chamou de "um verdadeiro estado paralelo".

Um aviso que mudou o rumo de uma operação

A história começa em 2 de setembro de 2025. Naquele dia, Bacellar, então presidente da Alerj, teria recebido dados confidenciais da Operação Zargun — uma ação coordenada pela Polícia Federal (PF) para prender integrantes do Comando Vermelho no Rio. Entre os alvos estava TH Joias, acusado de ser um dos principais facilitadores do crime organizado: lavava dinheiro, comprava armas e ainda intermediava equipamentos tecnológicos para bloquear rastreamentos policiais. O que torna o caso ainda mais grave é que o celular de TH Joias tinha Bacellar como "contato de emergência número 1" — o único número salvo no aparelho, recém-adquirido para evitar vigilância. Foi como se o deputado tivesse dado um sinal de alerta direto ao chefe da Tropa do Urso, grupo treinado por ex-militares e especializado em táticas de guerrilha.

Operação Unha e Carne: o fim da impunidade

Três meses depois, em 3 de dezembro de 2025, a PF deflagrou a Operação Unha e Carne. Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão, um de prisão preventiva e um de intimação, todos expedidos pelo STF em Brasília. A operação não visava apenas prender Bacellar — mas desmontar o sistema de vazamento de informações dentro da política fluminense. "Os fatos narrados pela PF são gravíssimos", afirmou Moraes. "Há patente necessidade da prisão para resguardar a ordem pública e a aplicação da lei." O ministro também autorizou a apreensão de armas, munições, passaportes, celulares e documentos em gabinetes da Alerj, na sede do Legislativo estadual, localizada no Centro do Rio de Janeiro.

Constituição exige voto da Casa — e a pressão está alta

Como Bacellar é deputado, a Constituição Federal exige que a Alerj vote sobre a manutenção da prisão. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa se reuniu em sessão extraordinária na sexta-feira, 5 de dezembro de 2025, às 15h, convocada pelo presidente em exercício, Guilherme Delaroli (PL). A votação foi marcada por tensão. A Procuradoria da Alerj analisou o documento encaminhado pela PF, já que o STF não enviou a íntegra do processo Pet 14.969 — um detalhe que gerou questionamentos jurídicos. Mas a Procuradoria autorizou o andamento do procedimento com base no que foi apresentado.

A regra é clara: para manter a prisão, são necessários pelo menos 36 votos dos 70 deputados. Bacellar, é claro, não vota. Mas o que torna o cenário ainda mais delicado é que ele foi reeleito por unanimidade para a presidência da Alerj — um sinal claro de que sua influência não é isolada. "É um caso raro, mas não único", disse um jurista que pediu anonimato. "Já vimos parlamentares envolvidos com milícias. Mas nunca alguém que alertou diretamente um chefe de facção sobre uma operação do STF. Isso é um golpe na integridade do Estado."

Um estado paralelo que opera na sombra

Um estado paralelo que opera na sombra

Segundo o secretário da Polícia Militar do Rio, Marcelo Menezes, TH Joias era mais do que um traficante: era um "ponte entre o crime e o poder político". Ligado a Doca, líder do Comando Vermelho, ele coordenava a Tropa do Urso — uma unidade de elite formada por ex-integrantes das Forças Armadas e da polícia, treinados para combater operações policiais como se fossem batalhas de guerra. "Eles sabem onde os policiais vão chegar, quando vão chegar e como vão chegar. Porque alguém dentro do sistema os avisa", disse Menezes. A Operação Zargun, originalmente planejada para desmantelar redes de armas e lavagem, foi comprometida antes mesmo de começar — e agora, com a prisão de Bacellar, o STF quer saber: quem mais sabe? Quem mais participa? E quem ainda está protegendo os criminosos?

O que vem a seguir

O plenário da Alerj deve votar a manutenção da prisão na segunda-feira, 8 de dezembro de 2025. A expectativa é que a votação seja acirrada. Deputados do União Brasil, partido de Bacellar, já se manifestaram contra a prisão, alegando "violação de direitos". Mas outros, como o líder do PSOL, Marcelo Freixo, pedem transparência: "Se o STF tem provas, o Legislativo não pode se transformar em um escudo para a corrupção."

Enquanto isso, a PF continua investigando. Celulares apreendidos, e-mails cifrados e contas bancárias suspeitas estão sendo analisados. A promessa do STF é clara: não haverá impunidade. E se Bacellar for afastado, o que vem depois? Será que a Alerj vai se limpar? Ou será apenas o primeiro nome de uma longa lista?

Contexto histórico: quando a política vira crime

Contexto histórico: quando a política vira crime

Esse não é o primeiro caso de parlamentar envolvido com facções no Rio. Em 2020, o ex-deputado estadual Marcelo Freitas foi preso por financiar milícias. Em 2022, o então presidente da Alerj, André Ceciliano, foi alvo de investigação por suposto favorecimento a traficantes em obras públicas — mas acabou absolvido por falta de provas. O que diferencia o caso de Bacellar é a gravidade do vazamento: ele não apenas beneficiou um criminoso, mas sabotou uma operação de alto nível autorizada pelo STF, no âmbito da ADPF 635 das Favelas, que visa combater a violência sistêmica nas comunidades do estado.

Essa operação, iniciada em 2022, já resultou em mais de 300 prisões e apreensão de mais de R$ 120 milhões em ativos. Mas, segundo o próprio Moraes, "a cada três operações bem-sucedidas, uma é sabotada por alguém dentro do sistema". Agora, com Bacellar preso, a pergunta que fica é: quantos outros estão na mesma situação?

Frequently Asked Questions

Por que a prisão de um deputado precisa da aprovação da Alerj?

A Constituição Federal de 1988 garante imunidade parlamentar, exigindo que qualquer prisão de deputado estadual seja validada pelo próprio Legislativo. Isso vale mesmo em casos de crimes inafiançáveis. A Alerj precisa votar por maioria simples (36 dos 70 deputados) para manter a prisão. Caso não seja aprovada, o deputado deve ser solto imediatamente, mesmo que o STF mantenha a decisão.

O que é a ADPF 635 das Favelas e por que ela é importante?

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, julgada pelo STF em 2022, reconheceu que a violência nas favelas do Rio é resultado de falhas estruturais do Estado. A decisão delegou à Polícia Federal o poder de investigar conexões entre facções criminosas e agentes públicos. É a primeira vez que o Supremo autoriza uma operação de combate ao crime organizado com foco em corrupção política — e Bacellar é o primeiro parlamentar preso sob essa nova autoridade.

Como Bacellar conseguiu acessar informações sigilosas da Operação Zargun?

A PF suspeita que ele tenha recebido os dados por meio de um contato dentro da própria PF ou da Polícia Civil, possivelmente alguém com acesso ao sistema de inteligência da operação. O ministro Moraes mencionou "vazamentos sistemáticos" em sua decisão, sugerindo que Bacellar não agiu sozinho. Investigações em andamento buscam identificar os outros possíveis envolvidos, incluindo servidores públicos e assessores.

Quais são as consequências legais para Bacellar se for condenado?

Se condenado por obstrução de investigação e violação de sigilo funcional, Bacellar pode pegar de 4 a 12 anos de prisão. Além disso, perderá o mandato de deputado, ficará inelegível por oito anos e poderá ser processado por associação criminosa. O STF também pode pedir a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar, mesmo antes da condenação final.

A prisão de Bacellar pode mudar o equilíbrio de poder na Alerj?

Sim. Bacellar era o líder da bancada do União Brasil e tinha forte influência sobre recursos do orçamento estadual. Sua prisão pode desencadear uma corrida por sua sucessão, com alianças se reorganizando. Se o plenário rejeitar a prisão, o poder político será reforçado para os aliados do crime organizado. Se for mantida, pode abrir espaço para uma reforma mais profunda — e talvez até para a nomeação de um presidente da Casa sem ligação com facções.

13 Comentários

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    Matheus D'Aragão

    dezembro 9, 2025 AT 06:54
    Pelo amor de Deus, já era hora. Essa galera pensa que o Estado é um serviço de entrega de favores.
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    Carlos Silva

    dezembro 10, 2025 AT 23:13
    Opa... então o Bacellar foi preso por avisar o TH Joias? Mas... será que ele não foi só um bode expiatório? A PF tem prova concreta? Ou só "indícios"? Porque se for só isso... aí a gente tá no mesmo jogo de sempre... :/
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    Gabriel Motta

    dezembro 12, 2025 AT 18:20
    Ah, claro. O deputado que tem o chefe do Comando Vermelho como contato de emergência número 1... só pode ser coincidência, né? 🤡

    Enquanto isso, no Ministério da Justiça, alguém está pedindo para o Lula assinar um decreto para "proteger os direitos dos parlamentares que ajudam traficantes a fugir". Será que a Constituição prevê isso? Ou só o STF é que tem que entender tudo?
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    Ana Paula Dantas

    dezembro 14, 2025 AT 09:51
    No Rio, política e crime sempre andaram juntos. Mas agora o STF tá botando a mão no fogo. Se essa prisão for mantida, pode ser o começo de algo diferente.
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    Bruna Soares

    dezembro 14, 2025 AT 10:24
    eles sempre dizem que é pra combater o crime... mas no fim das contas é só pra tirar um deputado do caminho... e depois aparece outro igual... 😩
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    Maria Emilia Barbosa pereira teixeira

    dezembro 15, 2025 AT 06:59
    Mas e se o próprio Moraes estiver usando isso pra consolidar poder? E se essa "operação" for só um espetáculo pra enganar o povo? Afinal, quem garante que não tem outro juiz no bolso da PF? 😏
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    Rosemeire Mamede

    dezembro 16, 2025 AT 19:55
    VOCÊS NÃO VEEM QUE ISSO É SÓ O COMEÇO? ELES VÃO PRENDER TODOS OS QUE NÃO SÃO DELES. E DEPOIS VÃO DIZER QUE "LIMPARAM A CASA". MAS NINGUÉM VAI SABER QUEM É QUE REALMENTE MANDA!
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    Tatiana Taty

    dezembro 18, 2025 AT 13:25
    Poxa, que tristeza... 😔

    Um deputado que deveria representar o povo... e escolheu ser o mensageiro do crime. A gente paga imposto, sofre com a violência, e eles... trocam informações como se fosse um jogo de xadrez. Será que alguém vai se lembrar disso na próxima eleição? Ou vamos continuar fingindo que não vemos?
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    valder portela

    dezembro 20, 2025 AT 12:56
    Se a Alerj não aprovar a prisão, o que isso diz sobre a instituição? Que ela é um escudo? Que o povo não tem mais representação? É um momento histórico, e a gente tá assistindo passivamente.
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    Wellington Rosset

    dezembro 22, 2025 AT 09:02
    Isso aqui é mais do que um caso de corrupção. É a quebra de um pacto social. Quando o político vira o braço direito do crime, o Estado deixa de existir. E a gente, que paga imposto, que vota, que sonha com um país melhor... fica só olhando. Mas e se a gente começar a exigir mais? E se a gente não aceitar mais esse jogo?
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    Joseph Nardone

    dezembro 24, 2025 AT 06:24
    A ADPF 635 foi um marco, mas a pergunta que fica é: será que o Estado tem capacidade de se reformar por dentro? Ou a corrupção é tão profunda que só um colapso completo vai limpar? É uma questão filosófica, mas também prática. A lei existe, mas quem garante que ela será aplicada?
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    Marcus Vinicius

    dezembro 25, 2025 AT 16:37
    A Constituição exige o voto da Casa, mas a legitimidade moral da decisão não depende disso. O STF atuou com base em provas concretas, e a Alerj, ao se recusar a agir, se torna cúmplice. A imunidade parlamentar não é um escudo para a traição.
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    Jose Roberto Alves junior

    dezembro 27, 2025 AT 11:00
    Eu só espero que isso não vire um bode expiatório. Se não investigarem até o fim, se não pegarem os que realmente passaram as informações... a gente só tá trocando um nome por outro.

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